Bibi Ferreira durante entrevista com Roberto D'Avila
Foto: Tata Barreto/Globo
Bibi Ferreira com o pai, Procópio Ferreira, em 1978
Foto:
TV Globo
Publicado originalmente no site G1 Rio, em 13/02/2019
Bibi Ferreira, diva dos musicais brasileiros, morre aos 96
anos
Atriz, diretora, cantora, compositora e apresentadora morreu
em seu apartamento, no Rio. Filha de Procópio Ferreira, artista brilhou por
décadas no teatro e nas telas.
Por G1 Rio
A atriz e cantora Bibi Ferreira, diva dos musicais
brasileiros, morreu nesta quarta-feira (13), aos 96 anos, no Rio. Também
apresentadora, diretora e compositora, ela foi um dos maiores fenômenos
artísticos do país.
Segundo Tina Ferreira, filha única de Bibi, a artista morreu
no início da tarde em seu apartamento no Flamengo, Zona Sul do Rio. A atriz
acordou e a enfermeira que a acompanhava percebeu que o batimento cardíaco
estava baixo e, por isso, chamou um médico. Tina acredita que a mãe morreu
dormindo.
"Ela amanheceu normal, acordou tomou seu café da manhã
e tudo. Depois ela só se queixou que estava se sentindo um pouco com falta de
ar. Então como tem enfermeira, tem tudo, tiramos a pressão, o pulso estava
fraco. Imediatamente chamamos o Pró-Cardíaco. Eles vieram muito rápido, muito
rápido mesmo, ambulância, médico, tudo, mas quando chegaram ela já tinha
partido. Ela morreu dormindo, tranquila", explicou Tina.
A Secretaria Estadual de Cultura e Economia Criativa
informou que o velório vai ser no Theatro Municipal do Rio. A cerimônia, aberta
ao público, ocorre de 10h às 15h. Depois, o corpo de Bibi deve ser cremado.
Berço artístico
Bibi Ferreira teve uma carreira intensa de 77 anos de teatro
e música
Abigail Izquierdo Ferreira nasceu em 1º de julho de 1922.
Filha de um dos maiores nomes das artes cênicas do Brasil, o ator Procópio
Ferreira (1889-1979), e da bailarina espanhola Aída Izquierdo, Bibi – apelido
que ganhou ainda na infância – estreou nos palcos com pouco mais de 20 dias de
vida.
Em cena, ela apareceu no colo da madrinha, Abigail Maia, em
encenação de "Manhãs de sol", de Oduvaldo Vianna (1892-1972).
Artista multimídia, Bibi ao longo da carreira fez filmes,
apresentou programas de TV, gravou discos e dirigiu shows. Tudo sem nunca
abandonar o teatro, uma grande paixão.
Também foi enredo da Viradouro no Carnaval do Rio em 2003.
Recentemente, teve a vida e obra contadas no espetáculo "Bibi, uma vida em
musical", escrito por Artur Xexéo e Luanna Guimarães, com direção de Tadeu
Aguiar. Na montagem, a protagonista foi interpretada por Amanda Costa.
Em março de 2018, já aos 95 anos, Bibi foi assistir a uma
apresentação do musical, então em cartaz em um teatro no Rio e fez o público se
emocionar ao chorar cantando, da plateia e sem microfone, uma música de Edith
Piaf (1915-1963).
A própria Bibi interpretou a cantora francesa com maestria
em um musical de enorme sucesso no Brasil e em Portugal. O trabalho minucioso
foi considerado tão perfeito que mesmo pessoas que conheceram Piaf se
espantaram com o nível de semelhança.
Com o espetáculo, Bibi conquistou os principais prêmios do
teatro nacional, como Molière, Mambembe, Associação Paulista dos Críticos de
Arte (APCA), Governador do Estado e Pirandello. Foram apenas alguns dos muitos
prêmios que colecionou ao longo das décadas de carreira.
Em 1960, Bibi inaugurou a TV Excelsior com o programa ao
vivo "Brasil 60", que levou à TV os maiores nomes do teatro. A
atração mudaria de nome nos anos seguintes ("Brasil 61", depois
"Brasil 62" e assim por diante).
Na mesma emissora, também apresentou o programa "Bibi
sempre aos domingos". Em 1968, estrelou o musical "Bibi ao vivo"
– com direção de Eduardo Sidney, o programa era transmitido do auditório da
Urca.
Musicais
Ainda nos anos 1960, Bibi estrelou outros dois dos musicais
mais marcantes de sua carreira. O primeiro foi "Minha querida dama"
("My fair lady"), de Frederich Loewe e Alan Jay Lerner, adaptação de
"Pigmaleão", de George Bernard Shaw. No espetáculo, atuou ao lado de
Paulo Autran (1922-2007) e Jaime Costa (1897-1967).
O outro trabalho marcante foi "Alô, Dolly!"
(Hello, Dolly!), versão da obra "The matcmaker", de Thornton Wilder,
com Hilton Prado e Lísia Demoro.
Já na década de 1970, Bibi foi o principal nome de "O
homem de La Mancha", musical de Dale Wasserman dirigido por Flávio Rangel
e com letras adaptadas para o português por Chico Buarque.
Marca no Canecão
A artista deixou ainda seu nome marcado na casa de shows
Canecão, no Rio, ao dirigir o espetáculo "Brasileiro, profissão
esperança", de Paulo Pontes e Oduvaldo Vianna Filho (1936-1974), produção
inspirada na obra do compositor Antonio Maria.
No início, o show foi concebido em escala menor para ser
apresentado em boates, com Ítalo Rossi e Maria Bethânia nos papéis centrais.
Mas depois o musical foi reformulado e ampliado. Passou, então, a ser
protagonizado por Paulo Gracindo e Clara Nunes, transformando-se em um dos
maiores sucessos da história do Canecão.
Em 1975, Bibi recebeu o Prêmio Molière pela interpretação da
personagem Joana, de "Gota d’água", de Paulo Pontes e Chico Buarque,
montagem que ambientava a tragédia "Medeia", de Eurípedes, em um
morro carioca.
Amália
No início dos anos 2000, Bibi Ferreira fez mais um trabalho
impressionante ao interpretar a fadista Amália Rodrigues (1920-1999) no
espetáculo "Bibi vive Amália".
Em seguida, Bibi apresentou dois recitais, "Bibi in
concert" e "Bibi in concert pop", nos quais se apresentou
acompanhada por orquestra e coral.
Vida reservada
Admirada pelo público e adorada e respeitada pelos colegas,
Bibi sempre manteve uma rotina discreta, evitando a exposição de detalhes de
sua vida pessoal – raras eram suas aparições em eventos sociais.
Segundo amigos mais próximos, quando estava fora dos palcos,
Bibi preferia passar o tempo em seu apartamento no Flamengo. Teve vários
casamentos e apenas uma filha, Teresa Cristina.
Afastamento
"Nunca pensei em parar. Essa palavra nunca fez parte do
meu vocabulário, mas entender a vida é ser inteligente. Fui muito feliz com
minha carreira. Me orgulho muito de tudo que fiz. Obrigada a todos que de
alguma forma estiveram comigo, a todos a que me assistiram, a todos que me
acompanharam por anos e anos. Muito obrigada! Bibi."
Com essas palavras, atribuídas a Bibi Ferreira em comunicado
publicado em rede social, a atriz e cantora carioca anunciou, em 10 de setembro
de 2018, que encerrava uma das carreiras mais gloriosas construídas por uma
artista no Brasil e no mundo.
Aos 96 anos, a artista se retirou voluntariamente de cena
para preservar a saúde após três sucessivas internações.
De acordo com a nota, Bibi disse que não iria mais se
apresentar nos palcos como atriz e/ou cantora. Tampouco daria entrevistas, nem
mesmo por e-mail, como vinha fazendo nos últimos tempos.
Texto e imagens reproduzidos do site: g1.globo.com/rio
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