Ruth de Souza na série 'Malu mulher', em 1980
Foto: TV Globo
Ruth de Souza
emocionada durante homenagem no
desfile da Acadêmicos de Santa Cruz, no
carnaval de 2019,
no Rio (Foto: Marcos Serra Lima/G1)
Publicado originalmente no site G1, em 28/07/2019
Atriz Ruth de Souza morre no Rio aos 98 anos
Ela foi a primeira atriz negra a atuar no Theatro Municipal
e a primeira brasileira indicada a um prêmio internacional de cinema. Ruth de
Souza estava internada com pneumonia.
Por G1 Rio
Morreu na manhã deste domingo (28) a atriz Ruth de Souza, de
98 anos. Ela estava internada desde o começo da semana no Centro de Tratamento
Intensivo do Hospital Copa D'Or, em Copacabana, na Zona Sul do Rio, vítima de
uma pneumonia. A causa da morte não foi informada pelo hospital.
Com mais de 70 anos dedicados à dramaturgia, Ruth de Souza é
ícone de várias gerações de atores. Ela foi pioneira ao longo de sua carreira:
foi a primeira atriz negra a se apresentar no Theatro Municipal do Rio e a
construir carreira na dramaturgia. Foi também a primeira brasileira indicada a
um prêmio internacional de cinema – no Festival de Veneza de 1954.
O velório da atriz será nesta segunda-feira (29) no Theatro
Municipal a partir das 8h. Na primeira parte, o velório será fechado para a
família até 10h, segundo informações da assessoria do Theatro Em seguida, será
aberto ao público até o meio-dia.
O Crematório e Cemitério da Penitência informou que o
sepultamento da atriz acontecerá às 16h30 no local, em cerimônia reservada à
família e amigos próximos.
Trajetória
Ruth de Souza Pinto nasceu em 12 de maio de 1921, no bairro
do Engenho de Dentro, na Zona Norte do Rio de Janeiro. Passou a infância com a
família em Porto do Marinho (MG) e, após a morte do pai, voltou ao Rio com a
mãe. Viveram em uma vila de lavadeiras e jardineiras em Copacabana.
Interessada em teatro, procurou e se uniu ao Teatro
Experimental do Negro, grupo fundado por Abdias Nascimento e Agnaldo Camargo.
Foi com o grupo que, em 8 de maio de 1945, atuou pela primeira vez no Theatro
Municipal, que até então só tinha recebido atrizes brancas e ajudou a abrir as
portas para artistas negras no Brasil. A peça encenada foi "O Imperador
Jones", de Eugene O’Neil.
Midori de Souza, sobrinha-neta de Ruth de Souza, falou da
importância da tia para a dramaturgia.
"Ela merece essa homenagem da família, e os fãs também
merecem, né, dar esse adeus para ela, porque a gente sabe que tem muita gente
que gosta dela (...) Minha tia foi uma pessoa muito importante para a família
toda. Uma pessoa de muita garra, uma pessoa que sempre deu conselhos, presente
demais na família. Era tipo a matriarca da família"
Mais de 20 novelas
Na televisão, foi uma das pioneiras. Passou pela TV Tupi,
pela Record, TV Excelsior e, em 1968, Ruth de Souza foi contratada pela Globo
para atuar na novela "Passo dos ventos", onde interpretou a mãe de
santo Tuiá, uma mulher sábia cujos antepassados eram escravos, no Haiti.
Seu último trabalho foi na minissérie "Se eu fechar os
olhos agora", que foi ao ar este ano, na Globo. Na história recriada por
Ricardo Linhares a partir do romance original de Edney Silvestre, ela viveu
Madalena. Idosa e abandonada, a personagem era "adotada" pelos
meninos Paulo Roberto (João Gabriel D’Aleluia) e Eduardo (Xande Valois) antes
de ser assassinada de forma brutal e misteriosa.
Filha de um lavrador e de uma lavadeira, desde criança Ruth
sonhava em ser atriz. “Eu era apaixonada por cinema. Queria ser atriz, mas
naquela época não tinha atores negros, e muita gente ria de mim: ‘Imagina, ela
quer ser artista! Não tem artista preto’. Eu ficava meio chateada, mas sabia
que ia fazer; como, não sabia", declarou a atriz no site Memória Globo.
Como uma das pioneiras da TV brasileira, a atriz participou
de programas de variedades e musicais no início das transmissões da TV Tupi,
até adaptar para a televisão, com Haroldo Costa, a peça "O filho
pródigo", que havia encenado no Teatro Experimental do Negro. A primeira
novela foi "A deusa vencida" (1965), de Ivani Ribeiro, na TV Excelsior.
Na Globo, a atriz atuou em mais de 20 novelas. Entre elas:
"A cabana do Pai Tomás", "Pigmalião 70", "Os ossos do
barão", "O rebu", "Duas vidas" e "O clone".
Em "Sinhá Moça" Ruth fez uma dupla inesquecível
com Grande Otelo. Também atuou em seriados como "Memorial de Maria
Moura" e "Na Forma da Lei".
Carreira no cinema
No cinema, Ruth participou de mais de 30 filmes, incluindo a
versão para a telona de "Sinhá Moça", de Tom Payne. O longa levou
Ruth a concorrer ao prêmio de melhor atriz do Festival de Veneza de 1954.
Em entrevista ao Memória Globo, ela lembra que, por pouco,
não levou o prêmio e ainda superou atrizes consagradas como Katherine Hepburn e
a Michèle Morgan – Lili Palmer foi a vencedora.
“Era muito importante o festival, Veneza, o festival de
Veneza naquela época acho que era mais importante que o de Cannes, era muito
importante. E aí, quando veio a notícia de que Lili Palmer tinha ganho o prêmio
e eu tinha perdido por dois votos. Dois votos... Então, a Katherine Hepburn e a
Michèle Morgan ficaram para trás, ficaram em quarto lugar, não sei.. Para mim,
foi como se eu tivesse ganho o prêmio, foi muito importante para a minha
carreira, inclusive", contou Ruth.
A atriz esteve também no clássico "O assalto ao trem
pagador" (1962), de Roberto Farias, e "As filhas do vento", de
Joel Zito Araújo, com o qual foi premiada no Festival de Gramado de 2004.
Ruth de Souza era grande admiradora do cinema por entender
que era onde o artista negro tinha mais oportunidades.
"O cinema sempre deu mais oportunidade para o negro,
desde o Grande Otelo. Eu tive sorte na continuidade de trabalho, tanto no
teatro quanto na televisão. Sempre tive trabalho, mas são poucos os negros que
têm. Isso foi benção de Deus”, declarou.
Repercussão
A morte da atriz Ruth de Souza, aos 98 anos, foi lamentada
por artistas, amigos, admiradores e personalidades...
Texto e imagens reproduzidos do site: g1.globo.com
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