Plínio
Marcos de Barros
Plinio Marcos, dramaturgo brasileiro - 1991.
Juan Esteves.
Nascimento: 29/9/1935 (Brasil, São Paulo, Santos)
Morte: 19/11/1999 (Brasil, São Paulo, São Paulo)
Habilidades: Jornalista, Autor, Ator.
Biografia:
Plínio Marcos de Barros (Santos SP 1935 - São Paulo SP
1999). Autor. Renovador dos padrões dramatúrgicos, através de enfoque quase
naturalista que imprime aos diálogos e situações, sempre cortantes e carregados
de gírias de personagens oriundas das camadas sociais periféricas, torna o
palco, a partir dos anos 1960, uma feroz arena de luta entre indivíduos sob
situações de subdesenvolvimento.
Vive até a juventude em Santos, quando ingressa em um
circo-teatro, no qual ocupa diversas funções e destaca-se como o palhaço
Frajola. Em 1958, é chamado para substituir um ator no grupo amador que
Patrícia Galvão, mais conhecida como Pagu, e seu marido Geraldo Ferraz mantém
na cidade, e conhece autores como Samuel Beckett e Fernando Arrabal.
Desses contatos resulta a primeira encenação amadora de um
texto seu, Barrela, em 1959, dirigido por ele próprio, centrado numa curra em
uma cela de prisão, o que provoca escândalo na sociedade santista.
Plínio exerce diversas funções, como vendedor de álbuns de
figurinhas, camelô, e, no início dos anos 60, técnico da TV Tupi . Em 1966, sob
a direção de Benjamin Cattan, ele e Ademir Rocha interpretam Dois Perdidos Numa
Noite Suja, no Ponto de Encontro, bar da Galeria Metrópole, em São Paulo, o que
marca sua estréia como profissional.
Navalha na Carne, sua obra seguinte, enfrenta graves
problemas com a Censura, o que desencadeia mobilização da classe teatral.
Leituras no Teatro de Arena e no teatrinho particular de Cacilda Becker e
Walmor Chagas reúnem a crítica e artistas, que pressionam pela liberação do
texto, permitindo à montagem estrear em 1967. Porém o pungente desempenho de Ruthinéa de Moraes,
vivendo a prostituta explorada pelo proxeneta, só é liberado para maiores de 21
anos. O mesmo papel irá impulsionar a carreira de Tônia Carrero, na montagem
carioca sob a direção de Fauzi Arap, em 1968. No ano anterior, Plínio dirige
mais um outro texto, Quando as Máquinas Param, no Teatro de Arte, sala pequena
do TBC, que chama a atenção para o trabalho de Miriam Mehler. Também em 1967,
surge nova criação, Homens de Papel, com Maria Della Costa interpretando a
catadora de papel Nhanha, pelo Teatro Popular de Arte - TPA.
Fervoroso defensor dos seus direitos, Plínio envolve-se em
agudo debate, transmitido pela TV, com a deputada Conceição da Costa Neves, no
qual advoga pela sua liberdade de expressão. Já é um nome nacional e, como
articulista do jornal Última Hora, dispõe de uma tribuna para arremeter contra
a censura e a ditadura.
Sua vida insubmissa, seus textos desbocados e cheios de
fúria, sua teimosia em não aceitar cortes, em não negociar com a Censura, levam
à proibição de toda sua obra. Proclama-se um "autor maldito", sempre
que tem a oportunidade de fazer pronunciamentos públicos.
Jornada de um Imbecil até o Entendimento, encenada por João
das Neves no Grupo Opinião, em 1968, é nova oportunidade para gerar polêmica.
Em 1975, um episódio ilustra o clima em que ele sobrevive: a montagem de Abajur
Lilás, com direção de Antônio Abujamra, é proibida no ensaio geral, levando a
produção à bancarrota e Plínio à condição de autor cuja obra inteira
encontra-se interditada. A peça enfoca a vida de três prostitutas exploradas
por um cáften homossexual, num clima de mórbida dependência.
Sobrevive como articulista dos raros órgãos de imprensa que
o aceitam; só consegue voltar a atuar em 1977, com o musical O Poeta da Vila e
Seus Amores, sobre a vida de Noel Rosa, na encenação de Osmar Rodrigues Cruz,
que inaugura a nova sala do Teatro Popular do Sesi - TPS. A seguir, uma peça
amena: Sob o Signo da Discoteque, de 1979, período menos tenso que marca uma
mudança de rumo - Plínio interessa-se pelo estudo de assuntos esotéricos e pela
leitura do Tarô.
Dessa nova fase nascem Madame Blavatsky, encenada por Jorge
Takla 1985, grande painel sobre a vida da mística autora de A Doutrina Secreta;
e Balada de um Palhaço, com direção de Odavlas Petti, 1986, sobre dois palhaços
de circo que dividem o picadeiro.
Durante muitos anos Plínio vive das edições e reedições
auto-financiadas das suas obras, em exemplares que vende nas filas de teatro e
que incluem novelas, contos, peças teatrais e romances. Com freqüência,
personagens de crônicas ou contos migram para o texto teatral, como é o caso de
Balbina de Iansã, de 1970, nascida de textos jornalísticos, ou Querô, antes
vindo à luz na novela Querô, Uma Reportagem Maldita, de 1976.
Sobre o primeiro ciclo da produção pliniana, o crítico
Edelcio Mostaço escreve, surpreendido por sua originalidade: "Algozes
truculentos e vítimas pisoteadas alternam-se, em cada célula ou lance dos
enredos, para escalonarem e desvendarem as intimidades da outra figura;
desvendamentos cada vez mais cruéis, pérfidos ou insidiosos, cujos objetivos
são levar o outro ao martírio, isolá-lo num cúmulo de solidão e desamparo que,
não raro, atinge as raias da condição abjeta. O apogeu destes círculos de
opressão que se estreitam é insuflado pelas alternâncias entre as personagens,
onde algozes e vítimas intercambiam seus papéis, batalha que só terá fim num
confronto armado entre as figuras e do qual sobreviverá o mais apto. A
dramaticidade de Plínio não admite soluções de compromisso ou acomodamento de
situações, apenas o rompimento dos vínculos, onde apenas a morte ou o
aniquilamento de um dos pólos tencionais pode representar a libertação".1
Plínio deixa grande número de obras inéditas, como O Bote da
Loba, 1997, além de peças infantis (As Aventuras do Coelho Gabriel, 1965; O
Coelho e a Onça, 1988; Assembléia dos Ratos, 1989). É o autor dos roteiros
cinematográficos Rainha Diaba, filme de Antônio Carlos Fontoura realizado em
1971, e Nenê Bandalho, filme de Emílio Fontana, de 1970. Navalha na Carne e
Dois Perdidos Numa Noite Suja ganham versões cinematográficas de Braz Chediak,
em 1969 e 1970, respectivamente. Em 1997, Neville de Almeida volta a filmar
Navalha na Carne e José Jofilly prepara uma nova versão para as telas de Dois
Perdidos, ainda em processo de produção. Em 1968, com sua atuação na novela
Beto Rockfeller, de Bráulio Pedroso, Plínio alcança projeção nacional como
ator. Recebe o Prêmio Molière de melhor autor por Navalha na Carne e Dois
Perdidos Numa Noite Suja, nos anos em que são lançadas, além do Golfinho de
Ouro como personalidade, em 1971. Casa-se com a atriz Walderez de Barros e é
pai do também dramaturgo Léo Lama.
Notas
1. MOSTAÇO, Edelcio. Crônicas de um tempo mau. São Paulo,
julho de 2001. (Prefácio inédito).
Texto reproduzidos do site: enciclopedia.itaucultural.org.br
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