quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Plínio Marcos de Barros (1935 - 1999)


Plínio Marcos de Barros

Plinio Marcos, dramaturgo brasileiro - 1991.

Juan Esteves.

Nascimento: 29/9/1935 (Brasil, São Paulo, Santos)
Morte: 19/11/1999 (Brasil, São Paulo, São Paulo)
Habilidades: Jornalista, Autor, Ator.

Biografia:

Plínio Marcos de Barros (Santos SP 1935 - São Paulo SP 1999). Autor. Renovador dos padrões dramatúrgicos, através de enfoque quase naturalista que imprime aos diálogos e situações, sempre cortantes e carregados de gírias de personagens oriundas das camadas sociais periféricas, torna o palco, a partir dos anos 1960, uma feroz arena de luta entre indivíduos sob situações de subdesenvolvimento.

Vive até a juventude em Santos, quando ingressa em um circo-teatro, no qual ocupa diversas funções e destaca-se como o palhaço Frajola. Em 1958, é chamado para substituir um ator no grupo amador que Patrícia Galvão, mais conhecida como Pagu, e seu marido Geraldo Ferraz mantém na cidade, e conhece autores como Samuel Beckett e Fernando Arrabal.

Desses contatos resulta a primeira encenação amadora de um texto seu, Barrela, em 1959, dirigido por ele próprio, centrado numa curra em uma cela de prisão, o que provoca escândalo na sociedade santista.

Plínio exerce diversas funções, como vendedor de álbuns de figurinhas, camelô, e, no início dos anos 60, técnico da TV Tupi . Em 1966, sob a direção de Benjamin Cattan, ele e Ademir Rocha interpretam Dois Perdidos Numa Noite Suja, no Ponto de Encontro, bar da Galeria Metrópole, em São Paulo, o que marca sua estréia como profissional.

Navalha na Carne, sua obra seguinte, enfrenta graves problemas com a Censura, o que desencadeia mobilização da classe teatral. Leituras no Teatro de Arena e no teatrinho particular de Cacilda Becker e Walmor Chagas reúnem a crítica e artistas, que pressionam pela liberação do texto, permitindo à montagem estrear em 1967. Porém  o pungente desempenho de Ruthinéa de Moraes, vivendo a prostituta explorada pelo proxeneta, só é liberado para maiores de 21 anos. O mesmo papel irá impulsionar a carreira de Tônia Carrero, na montagem carioca sob a direção de Fauzi Arap, em 1968. No ano anterior, Plínio dirige mais um outro texto, Quando as Máquinas Param, no Teatro de Arte, sala pequena do TBC, que chama a atenção para o trabalho de Miriam Mehler. Também em 1967, surge nova criação, Homens de Papel, com Maria Della Costa interpretando a catadora de papel Nhanha, pelo Teatro Popular de Arte - TPA.

Fervoroso defensor dos seus direitos, Plínio envolve-se em agudo debate, transmitido pela TV, com a deputada Conceição da Costa Neves, no qual advoga pela sua liberdade de expressão. Já é um nome nacional e, como articulista do jornal Última Hora, dispõe de uma tribuna para arremeter contra a censura e a ditadura.

Sua vida insubmissa, seus textos desbocados e cheios de fúria, sua teimosia em não aceitar cortes, em não negociar com a Censura, levam à proibição de toda sua obra. Proclama-se um "autor maldito", sempre que tem a oportunidade de fazer pronunciamentos públicos.

Jornada de um Imbecil até o Entendimento, encenada por João das Neves no Grupo Opinião, em 1968, é nova oportunidade para gerar polêmica. Em 1975, um episódio ilustra o clima em que ele sobrevive: a montagem de Abajur Lilás, com direção de Antônio Abujamra, é proibida no ensaio geral, levando a produção à bancarrota e Plínio à condição de autor cuja obra inteira encontra-se interditada. A peça enfoca a vida de três prostitutas exploradas por um cáften homossexual, num clima de mórbida dependência.

Sobrevive como articulista dos raros órgãos de imprensa que o aceitam; só consegue voltar a atuar em 1977, com o musical O Poeta da Vila e Seus Amores, sobre a vida de Noel Rosa, na encenação de Osmar Rodrigues Cruz, que inaugura a nova sala do Teatro Popular do Sesi - TPS. A seguir, uma peça amena: Sob o Signo da Discoteque, de 1979, período menos tenso que marca uma mudança de rumo - Plínio interessa-se pelo estudo de assuntos esotéricos e pela leitura do Tarô.

Dessa nova fase nascem Madame Blavatsky, encenada por Jorge Takla 1985, grande painel sobre a vida da mística autora de A Doutrina Secreta; e Balada de um Palhaço, com direção de Odavlas Petti, 1986, sobre dois palhaços de circo que dividem o picadeiro.

Durante muitos anos Plínio vive das edições e reedições auto-financiadas das suas obras, em exemplares que vende nas filas de teatro e que incluem novelas, contos, peças teatrais e romances. Com freqüência, personagens de crônicas ou contos migram para o texto teatral, como é o caso de Balbina de Iansã, de 1970, nascida de textos jornalísticos, ou Querô, antes vindo à luz na novela Querô, Uma Reportagem Maldita, de 1976.

Sobre o primeiro ciclo da produção pliniana, o crítico Edelcio Mostaço escreve, surpreendido por sua originalidade: "Algozes truculentos e vítimas pisoteadas alternam-se, em cada célula ou lance dos enredos, para escalonarem e desvendarem as intimidades da outra figura; desvendamentos cada vez mais cruéis, pérfidos ou insidiosos, cujos objetivos são levar o outro ao martírio, isolá-lo num cúmulo de solidão e desamparo que, não raro, atinge as raias da condição abjeta. O apogeu destes círculos de opressão que se estreitam é insuflado pelas alternâncias entre as personagens, onde algozes e vítimas intercambiam seus papéis, batalha que só terá fim num confronto armado entre as figuras e do qual sobreviverá o mais apto. A dramaticidade de Plínio não admite soluções de compromisso ou acomodamento de situações, apenas o rompimento dos vínculos, onde apenas a morte ou o aniquilamento de um dos pólos tencionais pode representar a libertação".1

Plínio deixa grande número de obras inéditas, como O Bote da Loba, 1997, além de peças infantis (As Aventuras do Coelho Gabriel, 1965; O Coelho e a Onça, 1988; Assembléia dos Ratos, 1989). É o autor dos roteiros cinematográficos Rainha Diaba, filme de Antônio Carlos Fontoura realizado em 1971, e Nenê Bandalho, filme de Emílio Fontana, de 1970. Navalha na Carne e Dois Perdidos Numa Noite Suja ganham versões cinematográficas de Braz Chediak, em 1969 e 1970, respectivamente. Em 1997, Neville de Almeida volta a filmar Navalha na Carne e José Jofilly prepara uma nova versão para as telas de Dois Perdidos, ainda em processo de produção. Em 1968, com sua atuação na novela Beto Rockfeller, de Bráulio Pedroso, Plínio alcança projeção nacional como ator. Recebe o Prêmio Molière de melhor autor por Navalha na Carne e Dois Perdidos Numa Noite Suja, nos anos em que são lançadas, além do Golfinho de Ouro como personalidade, em 1971. Casa-se com a atriz Walderez de Barros e é pai do também dramaturgo Léo Lama.

Notas

1. MOSTAÇO, Edelcio. Crônicas de um tempo mau. São Paulo, julho de 2001. (Prefácio inédito).

Texto reproduzidos do site: enciclopedia.itaucultural.org.br

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